Antes de eu falar sobre o instrumento, vou contar uma estorinha. Quando eu estava mais ou menos na metade do curso de luthieria na Roberto-Venn School Of Lutherie, surgiu a oportunidade, para os alunos que estivessem em dia com as suas atividades, de fazer mais um instrumento adicional além daqueles que são os curriculares, ou seja, daqueles que todo aluno precisa apresentar para poder ser graduado pela escola. Na época, eu estava ouvindo bastante o Southern Rock de caras como The Allman Brothers Band e Lynyrd Skynyrd, e me veio a ideia de fazer um resonator como instrumento extra. Mas eu queria fazer um instrumento que pudesse ser usado em palco, em pé, em uma vibe mais rock’n’roll, como se fosse uma guitarra mesmo, só que com aquele timbre clássico de resonator. Acontece que, para a minha sorte, um dos instrutores da escola, o Kris Olsen, tinha o seu próprio modelo de resonator elétrico, que ele fazia lá nos EUA. É claro que fui falar com ele sobre essa possibilidade. Cara gente finíssima, ele não só aprovou a ideia como me deu várias dicas preciosas sobre o que considerar no projeto. Pesquisei tudo o que podia sobre resonators elétricos, fiz contato com alguns luthiers americanos famosos por fazerem esse tipo de instrumento, e assim fui angariando mais e mais informações para o meu projeto. Eu desenhei o primeiro esboço da Spektra lá, na bancada mesmo, no intervalo entre as aulas, usando alguns templates que o Kris me emprestou. O resultado me agradou esteticamente, porém o problema é que o contorno ficou com algumas partes que lembravam o design do resonator do Kris, e quando lhe mostrei o blueprint, percebi que ele ficou um pouco aborrecido com isso. Disse então a ele que eu não faria o instrumento até que houvesse oportunidade de eu fazer uma revisão completa no design, para que o resultado final ficasse totalmente original. De lá para cá se passaram mais de doze anos, e o plano de montagem ficou na gaveta, por assim dizer. Ano passado, olhando meus papéis dei de cara com aquele blueprint, e resolvi começar a fazer as alterações no design. Como uma coisa leva a outra, muda aqui e muda ali, a mudança no plano estético e funcional acabou sendo realmente radical: absolutamente nada na Spektra lembra qualquer outro resonator que eu já tenha visto antes. Pelo menos não conscientemente. Não dá para dizer que o instrumento não chama a atenção lá em cima no palco.
Aproveitei para incluir no protótipo coisas que eu não sabia lá atrás e que são resultado da experiência acumulada nesses anos que se passaram, para aprimorar o timbre acústico do instrumento, para melhorar a ergonomia geral e para possibilitar uma operação com o máximo ganho possível sem microfonia. O resultado é este: o instrumento responde muito bem ao propósito para o qual ele foi projetado, que é ser um resonator para uso em palco, lado a lado com guitarras, baixo e bateria. Para tanto, o instrumento faz uso de um sistema de pre-amplificação que combina o sinal dos dois captadores, um magnético e um piezo de contato, distribuindo cada sinal para uma saída distinta, que pode então ser enviado para amplificadores e/ou processadores diferentes. O resultado é um som bastante autêntico de resonator, com mais corpo, mais peso, e também mais tolerância à microfonia, o que é realmente importante em um ambiente onde se toca mais alto.
Se uma imagem vale mais que mil palavras, um video de um cara fera como o Guto Vighi então, vale muito mais. Ele se interessou pelo projeto quando mostrei para ele o protótipo, e muito gentilmente topou fazer um test-drive, que posteriormente gerou esse video onde ele compartilha as suas impressões com a galera. Eu fiquei bem animado ao ouvir o instrumento sendo bem tocado, explorando as suas possibilidades. É isso que vale a pena neste negócio todo! Muito obrigado, Guto, pela força!
Assim sendo, sem mais delongas, assista aqui uma demo da Headstock Spektra, pelo guitarrista Guto Vighi.
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